segunda-feira, 18 de junho de 2012

História no Cinema: A Montanha



A Montanha



  
Superprodução do cinema brasileiro sobre a luta de soldados brasileiros na Segunda Guerra Mundial chega aos cinemas em 2012 cercada por muita expectativa
Chega em breve aos cinemas brasileiros o filme "A Montanha", dirigido pelo carioca Vicente Ferraz (“Soy Cuba”). O filme – uma superprodução, com um orçamento girando em 8 milhões de dólares – é baseado em fatos reais e conta a história sobre a participação de um grupo de soldados brasileiros da FEB (Força Expedicionária Brasileira) na Segunda Guerra Mundial. Cercado por uma enorme expectativa (público e crítica), “A Montanha” encaixa-se, claro, do gênero de “filme de guerra”. Mas seu enredo aparenta transbordar a narrativa e o argumento clássico desta classificação. No Sopé do Monte Castelo, na Itália, uma esquadra de caçadores de minas da FEB sofre um ataque de pânico e acaba se perdendo em plena “Terra de Ninguém” (zona deserta no front de guerra). Desesperados, com frio, fome e sede, os Pracinhas têm de optar por enfrentar a corte marcial ou encarar novamente o inimigo. Então, os remanescentes do grupo decidem rumar para outro ousado objetivo militar: desarmar o campo minado mais temido da Itália. No caminho, acabam encontrando um Partigiano arrependido e um oficial alemão cansado da guerra. Com a inesperada ajuda do ex-inimigo alemão, os Pracinhas vão tentar realizar uma missão até então considerada impossível.




O Brasil foi o único país latino-americano a enviar tropas para a Segunda Guerra Mundial. No total, foram enviados mais de 25 mil soldados à Itália, um grupo que ficou conhecido como “Força Expedicionária Brasileira”. Esses soldados permaneceram ininterruptamente 239 dias em combate. E participaram de diversos combates importantes, em terra e no ar. Entre as principais vitórias dos militares brasileiros no teatro de guerra europeu estão Massarosa, Monte Acuto, Barga, Montese, Fornovo di Taro e a mais famosa de todas: Monte Castelo. No pós-guerra, a participação dos “pracinhas” na guerra foi bastante contestada e até mesmo silenciada pela historiografia e pela classe política. Nas últimas décadas, no entanto, o tema passou a ser objeto de estudo acadêmico. E nas telas do cinema, os soldados brasileiros já foram tema de documentários importantes, como “Senta a Pua!”, de Erick de Castro. Mas nunca havia sido produzido uma ficção de longa-metragem. “A Montanha” – filmado no primeiro trimestre de 2011 – vem ocupar, não sem algum atraso, essa lacuna na cinematografia brasileira.
Orçado em 8 milhões de reais – o que significa uma grande quantia para um filme brasileiro – “A Montanha” traz Daniel de Oliveira (“Cazuza”) no papel principal, além dos atores Júlio Andrade, Ivo Canelas, Sergio Rubini, Richard Sammel, Thogun Teixeira e Francisco Gaspar. O diretor, Vicente Ferraz, sublinha que o seu filme difere um pouco dos demais do gênero:
- “A Montanha” não é um típico filme de guerra. É a história de brasileiros, italianos e alemães que se encontram durante o maior conflito do século XX. E nesse inusitado encontro mostra que, mesmo durante a guerra, os aspectos humanos podem sobreviver.
“A Montanha” está em fase de pós-produção e a previsão é que chegue aos cinemas brasileiros ainda em 2012. Para quem quiser ir conhecendo um pouco melhor o filme, pode acessar o seu blog oficial ou baixar um excelente material de divulgação da “Três Mundos” e da “Primo Filmes”, responsáveis pela produção do longa. Neste material (formato em PDF), é possível ler mais sobre o enredo do filme e curtir a história e as imagens de todos os soldados que são retratados nas telas.




Fonte: http://cafehistoria.ning.com/page/materia-do-cafe-historia-historia-no-cinema


sexta-feira, 8 de junho de 2012

Historiografia atual quebra mitos sobre escravidão no Brasil

  1.  


A relação conflituosa e opressiva, marcada pelos castigos físicos, é apenas um dos modelos de interação entre senhores e escravos no período colonial brasileiro. Se esse modo era recorrente na produção de açúcar, na pecuária os negros tinham liberdade para cultivar seus próprios alimentos, vender o excesso de produção e até constituir família. É o que mostra pesquisa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP desenvolvida pelo historiador Antonio Roberto Alves Vieira e orientada pela professora Vera Lucia Amaral Ferlini.
Não se trata, no entanto, de um ato de bondade dos senhores. Como a atividade pecuária lida com terras de grandes extensões, que facilitariam a fuga, a melhor maneira de manter os escravos por perto era permitir que mantivessem vínculos com o local. Ao constituir famílias, criava-se o espírito de solidariedade e cooperação, gerando um senso de responsabilidade para com os que dele necessitavam. Com cônjuges, filhos e outros parentes, os escravos teriam mais dificuldade em escapar.
O mesmo ocorre com as atividades econômicas exercidas pelos escravos em benefício próprio. Era um jeito de juntar dinheiro para algum dia, quem sabe, comprar a própria alforria e a dos próximos. Mas o sonho da liberdade poderia vir abaixo com a divisão das terras do senhor, por morte, casamento dos filhos ou venda a outro dono.

Pesquisas apontam que escravos de senhores diferentes relacionavam-se entre si “por meio de laços familiares, sanguíneos ou espirituais como o compadrio, por exemplo”, aponta Vieira. O certo grau de liberdade abria espaço para que cativos de uma mesma fazenda ou senhor se organizassem entre si, com relações de poder comuns a qualquer sociedade. “De maneira que, em um ambiente onde a distribuição de benesses e privilégios eram bens escassos, a competição e o conflito estavam na ordem do dia sempre”.
Na pecuária, atividade que teve grande importância na colonização do interior do Brasil, os negros atuavam também como vaqueiros e guarda-costas dos senhores, servindo às lutas entre famílias de colonos. Segundo o historiador Caetano de Carli, não era preciso comprar novos trabalhadores do tráfico para manter a população de escravos – as novas gerações já davam conta de suprir a demanda. É o que mostra o alto número de crioulos, que são os nascidos no Brasil, e crianças, bem como a presença de homens e mulheres em quantidade igual.

A agricultura cafeeira e a algodoeira favoreciam uma relação mais próxima entre escravos e senhores, sobretudo em plantações menores do Sul e Sudeste. O botânico francês Saint-Hilaire, ao viajar por essas regiões, observou que em muitos casos os negros trabalhavam lado-a-lado com os donos, além de beber, rezar e até dançar junto com eles. Sofriam menos castigos corporais que aqueles das plantations e, em partes do estado de São Paulo, até conseguiam juntar dinheiro para comprar fumo, bebidas e peças de vestuário. No Sul, havia casos em que ficavam responsáveis pela criação de animais sem supervisão.
Casos assim não eram necessariamente a exceção. No ano de 1819, que coincide com a viagem de Saint-Hilaire, 44% dos escravos encontravam-se no Sul e Sudeste. Para Vieira, a pesquisa história em pecuária no Brasil ainda tem muito a crescer. “Avanços significativos são observados na historiografia rio-grandense, embora, reconheçam estrarem ainda bem aquém da produção de seus vizinhos platinos. Porém isso pode impulsionar novas abordagens, subsidiando nossas pesquisas, tanto em termos paradigmáticos quanto metodológicos”, diz.
Fonte: Unesp - Redação: Kelvin